Iniciando com um dos melhores (e livre de spoiler) prefácios que já li em um livro, é um ode à literatura; apresentando personagens belamente construídos a partir de um insight do autor que, conforme passeava por Portugal, vislumbrou uma garotinha tentando chamar a atenção dos pais mergulhados em seus mundos digitais.

O enredo com ares de mistério – lembrando obras como “A Sombra do Vento” e “A Menina que Roubava Livros” – encontra elementos da ficção científica conforme seus capítulos avançam; o leitor encontrará um suspense de tirar o fôlego em uma busca incansável por respostas, além de teorias que são tecidas constantemente e acabam ora se entrelaçando ora se renovando; referências que se assemelham a um quebra-cabeça ou pique-esconde, jogo extraído da tenra infância, que culminam em eventos esclarecedores, divertidos e trágicos.

Mesclando uma escrita cuidadosa e além de muitos de seus conterrâneos, Fausto Panicacci apresenta ao leitor Santiago como um jovem senhor amante de livros mas com um passado cerrado por um mar de neblina, um dos personagens mais complexos e cuja psique aponta, no mínimo, para duas vertentes; também conhecemos Alice, a menina, com toda sua inocência e modo único de ver o mundo e, fechando o trio de personas que fazem do livro primoroso, Antonio o português, o mestre que desperta o amor de Santiago pela literatura porque, afinal, ela é um assunto para todos nós.

Sem dúvida, foi uma das leituras que mais me prendeu a atenção no começo, desde todos os questionamentos intrínsecos nas páginas até sua veia de distopia, porque essa é uma história que se passa no futuro meus caros; conhecemos o gene C como o motivo, cientificamente comprovado, pela violência e crimes hediondos dos seres humanos, fazendo com que os governos passem a erradicar o índice de criminalidade. Contudo, a trama salta além e logo vemos um fantasma do nosso passado – uma espécie similar do programa nazista Lebensborn – buscando aperfeiçoar e alterar o DNA do feto antes mesmo de seu nascimento.

Para finalizar o âmbito da distopia apresentada por Panicacci temos, iniciando na Europa, a proibição dos livros impressos e de toda e qualquer obra que não possa ter caráter dinâmico, ou seja, que não possa ser alterada por seu usuário. A história não trata meramente de desvendar o mistério do passado de um personagem, ou de erradicar o gene C, é sequer de desenvolver o bebê perfeito. “O Silêncio dos Livros” fala sobre o que há de mais único, especial e profundo em nós humanos: nossa liberdade. Porque ao tirar a mínima ideia de que somos livres, nos tornamos seres robotizados, alienados, doutrinados por qualquer meio que possa nos privar do pensamento mais complexo e fundamental do cerne humano.

Um livro que eu recomendo e que deve ser apreciado e degustado conforme o avançar das páginas e o desvendar dos muitos mistérios que o autor nos apresenta. Por fim, caro leitor, apressa-te lentamente. (leia e entenderá)

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