“Pois é na Literatura que a Humanidade se confessa: é ela o espelho no qual nos vemos desnudados, e podemos então nos tornar um pouco melhores.”

E apesar de todo esse poder da literatura – ou justamente por isso –, ter livros é proibido e quem os tiver, se for denunciado, pode ser preso. Há quem concorde não só com a proibição dos livros, mas também com sua extinção, afinal, com o avanço tecnológico, por que se apegar a objetos tão antidemocráticos e que só mostram a visão do autor? Livros digitais? Só se forem interativos para que o leitor escolha o rumo que quiser para a trama.

Mas há quem ainda acredita no livro, no seu poder de tornar as pessoas mais humanizadas e protege-os com a vida. Uma delas é Santiago, um brasileiro discreto que foi morar em Portugal numa casa vizinha a de Alice, uma garotinha curiosa e muito sabida, mas ignorada pela família. Em meio a conversas, descobriram ter gostos em comum, inclusive carregar um caderninho sempre consigo. Mas o de Santiago continha um nome na capa, Hilário Pena, um homem com um passado conturbado e um tanto perturbador. E tudo o que a pequena Alice quer é ouvir as histórias de Santiago e saber quem foi Hilário Pena.

Um tributo ao poder transformador dos livros. Uma trama de suspense e insanidade. Um drama familiar. Uma distopia que não se distancia da realidade. É como descrevo a obra de Fausto Panicacci, uma mistura de vertentes que deu certo! Com uma escrita que é pura poesia, o autor nos transporta do Brasil à Portugal e a realidades que ora nos encantam, ora nos dão medo.

Apesar dos personagens (primários e secundários) serem interessantemente desenvolvidos, o destaque fica para o impacto que a literatura e toda a sua magia têm na vida das pessoas, seja na solidão do cárcere ou na euforia pelo conhecimento. Outro ponto alto é como a essência humana é explorada, como reagem a determinadas situações e como se busca justificar ações (e julgá-las) através da genética.

Com o clima de suspense, mistério e uma pitada de loucura, foi inevitável associar às obras de Zafón, mas Fausto tem suas particularidades que dão gosto de ler e orgulho por saber que é nacional. Plot twist e referências literárias (o que mais gostei, aliás) não faltam!

Recomendo a quem gosta de distopia, de livros que falam sobre livros, de quebrar a cabeça para entender os acontecimentos e de tramas não lineares. Recomendo também que, para a leitura, use-se o oximoro Festina Lente – Apressa-te Lentamente –, pois é um livro que merece ser lido por todos os amantes da literatura, mas degustado com muita atenção.

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